Monday, June 24, 2013

Corruptos São os Outros

Bob Devasso tem disso. 
Além de cumpridor dos compromissos com a pensão das ex-mulheres, odeia corrupção.
Sempre viveu honestamente, apesar de nunca ter tido um trabalho que pudesse chamar de seu.
Todas as suas mordomias, casas de luxo, carrões foram ganhos de maneira transparente.
Sua vida, contada em verso e prosa pelos amigos, sempre teve a figura da viúva ao seu lado.
E viúva aqui não é nenhuma mulherzinha gostosa pela qual tenha se apaixonado, e falecido em seus braços.
A santa viúva é o estado, o erário público, a mãe de todos os amigos que ajudam Bob Devasso a sobreviver.
Chamam-no às vezes de consultor, outras de lobbystas, algumas de intermediário, testa de ferro.
O seu bate todo mês na conta, em dólar ou em real, as vezes em euros ou yuan, religiosamente.
Discreto, nunca quis saber de onde vem a bufunfa. Seu negócio é receber e gastar.
Os pés nos palácios, numa repartição, nunca botou, assim como nunca atravessou a porta envidraçada de uma multinacional ou estatal.
Ou seja, de oficial só mesmo o bom nome, o qual não consta nem em cartão de visita.
Recentemente sentado a mesa de um boteco acertou mais uma "participação comissionada", que é como ele chama toda a dinheirama que recebe.
Mal sabia que o lugar estava sendo bisbilhotado por um promotor com ajuda de agentes da polícia federal.
Nesses momentos sua voz é emitida em sussurros, quase rosnando. Usa uma prótese que permite disfarçar o tom e a sonoridade do verbo no caso de qualquer gravação.
Dias se passaram e os federais armaram o flagrante. Justo numa puta greve dos bancos, e em meio a uma grave crise cambial.
Tinha caído na besteira de aceitar que a grana chegasse ao vivo, numa daquelas famosas maletas 007.
No que viu a movimentação dos homens de preto entrando boteco adentro, jogou para o alto o monte de notas de 100 e gritou:
"Quem foi que botou toda essa dinheirama no meu colo?! Sou um cara honesto, incorruptível."
Ao fim das diligências, do chamado processo legal saiu ileso. 
Graças a uma lei que punia as empresas corruptoras, foi para casa viver a vida.
Era um cara honesto, de moral ilibada, e nada contra ele foi provado.

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