Monday, June 7, 2010

A Ninfeta do boteco

Tinha só quatorze aninhos quando ele a conheceu passando em frente ao botequim onde tomava umas cachaças.
Era uma dessas morenas gostosas que desde de criança já parece uma mulherzinha.
Uns peitões de mamão, uma boca carnuda, uns cabelos negros, soltos, caídos sobre o ombro, e aquele sorriso ingênuo cheio de felicidade.
Mas tarde descobriu que era afilhada de uma grande amiga sua, a quem pediu permissão para que viessem a trabalhar juntos. Cheio de boas intenções não lhe passava pela cabeça qualquer transgressão a lei.
Não foram poucas as ocasiões que desfrutou do prazer da sua companhia, prazer de brincar, correr e pular atrás da garotada. Era a juventude perdida dos seus tempos de criança. Levantava o seu astral em qualquer ocasião que beirasse a tragédia.
Certa vez seu carro, uma perereca velha, modelo Parati-83 a qual todos nós chamavamos de "margarida" enguiçou, bem ali, em cima do Rebouças, bocada do Morro dos Prazeres em Santa Tereza.
Chovia canivete e a perereca velha de guerra nada de pegar. Saíram os dois na chuva a empurrar o carro, ela a sorrir da situação, cabelos molhados sem medo do perigo, se divertindo do inusitado da situação.
Não foram poucas às vezes que quase tentou...
Numa outra, os dois sozinhos, de galinhagem, brincando que nem criança, dançando ao som da música que rolava na festa. A vida deles era assim, só diversão. Também, pudera eram atores, animadores de festa de criança e as suas vidas era só zoação. O jogo deles era esse: só sedução.
E ela crescendo, e ele vendo a mulheraça que surgia. Suas cantadas levavam em conta sempre a grande diferença de idade que existia entre eles. Tinha que ser sutil, conseguir primeiro pelo menos um olhar, sua atenção.
Um dia a convidou para almoçar, numa boa... Cheio de fome queria entrar no primeiro botequim que aparecessese pela frente para matar um PF, e ela na sua santa ingenuidade emburrou uma cara, e recusou: "está pensando que sou dessas" exclamou. Tinha só dezesseis anos.
Estava crescendo depressa e o seu tempo vital se escasseando virando amigos.
Depois, cada vez mais afastados e unidos apenas por um número se pendurou no telefone para ver se a convencia que não podiam se separar. Ela rindo e fingindo que não entendia nada.
Até que um dia cresceu de vez, virou mulher nos braços de outro, se apaixonou e se foi.
Sentiu sua falta... Era seu sonho de uma paixão terminal indo embora.
Até que hoje, desligado do mundo, apaixonado pelo seu trabalho de mergulhador o telefone tocou e ouviu de novo a sua voz.
Sete anos tinham se passado, ela foi atrás e o achou. Cheia de charme, toda mistério, mulher adulta, sedutora, deixando fluir aquele gosto de pecado através da voz.
Casada, mãe de um filho, lhe fez uma confissão: "Sempre nos demos bem... Gosto do que aprendo com homens mais velhos!".
Diante da sutileza da insinuação teve que se manter equilibrado, sem perder a linha, aquele dom de paizão que sempre teve com ela.
Do papo lhe restou apenas a saudade do tempo em que ela ainda era uma criança, e com essa vontade, esse tesão enorme que não o faz perder a esperança de que um dia ela seja sua mulher.

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