Passavam 5 minutos das 9:00 horas quando André chegou em Santa Rosa para deixar Paulinha na casa de Mônica, sua segunda mulher.
“Sempre atrasado!” exclamou Mônica furiosa pelo atraso. Recomendações, um presente e um beijinho social na sua ex sogra, que jurou não querer vê-lo nem pintado depois da traição, e partiu.
Tomou o caminho da Ponte, acelerando pelo Rebouças a caminho da Lagoa, sem prestar atenção aos limites de velocidade, até chegar ao 'Selva de Pedra', no Leblon.
Ali deixou Gustavo, um rapazinho dos seus 12 anos, filho do primeiro casamento, sem antes ouvir:
“O quê que esse garoto está fazendo aqui? Não disse que era para levá-lo para o Andaraí? Agora vou ter de ir com o carro abarrotado de presentes e mais toda essa molecada!” falou se referindo aos filhos anteriores de João, seu atual marido, aos dela com Pedro, um peruano com quem viveu em Machu Picchu, e ao seu com ele.
Resolvida essa parte da missão, deu uma passadinha pelo Flamengo, que era para levar o presente de Aurora, sua ama de leite, a quem tratava como mãe.
Buzinas de um lado, campainha do outro com cobranças mil, quase ia levando uma multa por passar com celular ao ouvido em frente a um guardinha. Mas esse também não estava nem ai, ligado certamente nas cobranças ao telefone de alguma mulher.
“André, não esqueça que mamãe tem hora certa para comer. Sabe como ela é, um relógio quando se trata de comida” disse seu irmão mas velho, tipo o mentor da família, transmitindo a preocupação de todos.
Outro: “Cadê você? Estamos guardando seu lugar na fila da Churrascaria. Vê se não demora!” esse de Fernanda, sua atual companheira, mãe de Cynara e Cibele, filhas dos dois, uma homenagem as meninas do “Quarteto em Cy”.
A Palace fervia, gente pelo ladrão, com a fila quase dobrando a Avenida Atlântica. Quando entregou o carro ao guardador fez a recomendação: "Cuidado que peguei essa semana na concessionária, e ainda não estou com toda documentação regularizada!".
Ao entrar se deparou de cara com sua atual sogra, uma biriteira das rodas de buraco de Copa, assídua frequentadora do Caranguejo, e dos 'bunda de fora' da Barata Ribeiro. Já tinha tomado umas cinco caipivodkas de Kiwi com adoçante, que era para manter a plástica da sua dieta da terceira idade. Não podia perder o elã dos seus 63 quilos, graças as 35 correções estéticas que fez com a grana que recebeu do falecido, de quem foi corna zilhões de vezes.
“Esse é o genro mais bacana que já tive! Não fosse ele minha apêndice tinha estourado” gritou em alto e bom som, e da maneira mais estridente possível, que era para todo mundo ouvir. André era médico, um Gastroenterologista de mão cheia, com especialização nos States e o escambau, mas que tinha horror a carne. Coisas da medicina ou da modernidade, não sei.
Comeu uns dois sushis no balcão de comida chinesa, uma saladinha de rúcula com palmito, e uns tomatinhos cereja ao vinagrete para disfarçar a fome, olho no relógio. Para não reparem na sua aversão a seres vivos, deu lugar ao olho grande e arriscou num único camarão.
Pelos seus cálculos, se não saísse dali naquele exato momento não ia dar tempo de fazer a oração com a mãe, ritual que a família tinha em todas as refeições desde a infância.
Mil desculpas, beijos, beijinhos para a ‘vó’ das filhas, e um cínico “não esquece de dizer que o xale comprei em Portugal quando estive lá!” recado na Fernanda para a sogra, que nunca fez gosto daquele casamento “com a menina vendedora da Pier”.
Chave na mão, gorjeta na outra, e o carro arrancando célere na direção de Petrópolis. Tinha de chegar as 13:45, horário combinado pelo mentor Carlos com todos da família.
“Que engarrafamento filho da puta é esse!” exclamou quando viu a entrada do Rebouças cheia de carros parados. Arriscou e tomou o caminho do Aterro.
Santa decisão! “Para isso valeu o dinheiro roubado por aqueles safados nas Olimpíadas” pensou.
Tudo ia bem quando aquele bendito camarão vergê da Palace, resolveu dar o ar da sua graça, exatamente naqueles momentos finais do seu périplo materno. Tinha de ser rápido, ou ia ferrar com o estofamento da sua Hyundai zerada.
Parou no Alemão e pôs para fora tudo aquilo que o nervosismo daquela maratona tinha causado, não sem antes receber o telefonema final:
“André! Onde você está cara! Todo mundo aqui esperando e você nada! Já não aguento mais ouvir as histórias da Sofia e da Zoraide! Vê se chega rápido!!!!” uma última e decisiva decisão de Carlos, o mentor. Sofia e Zoraide eram as irmãs do meio, gêmeas solteironas que torravam o dinheiro da pensão do pai militar em viagens as mais estranhas e cheias de “sorte” – Alaska, Egito em plena ‘primavera árabe’, Síria já com o levante em andamento, e por pouco quase atingidas pelos atentados na França.
Finalmente chegou, a mãe aos prantos levantou-se da mesa para um abraço choroso. Tinham acabado de almoçar, e ele perdido o risoto do “Dias das Mães” preparado por Carmela, sua primeira namorada, vizinha de Dona Gilka, a mãe. A dor de barriga tinha atacado de novo e ele teve que parar num posto no meio da estrada para dar uma última cagada.
E foi sentado no vaso do banheiro que teve seu mais preciso pensamento resumindo aquele dia: “Quem inventou o Dia das Mães, não tem mãe!”
#BiradeOliveira
Sunday, May 14, 2017
Thursday, April 6, 2017
"Prendam suas cabras que meus bodes estão soltos"
Sou de um tempo em que se lia nos noticiários dos jornais que assédio era os caras da 'De Millus' convidarem as moças da fábrica para experimentar novos modelos de sutiã, só para ficar apalpando os seios delas.
Um tempo em que no 'Laboratório B. Braun', onde trabalhei, nas festas de fim de ano os caras da diretoria constrangiam as meninas da fábrica com passadas de mão na bunda, e estas fingiam aceitar só para irem trabalhar no escritório.
Essas e outras grosserias eram gritantes.
Uma vez levei uma colega que trabalhava na obra da Usina Nuclear, em Angra dos Reis, a delegacia pois que tinha se negado a deixar ser apalpada pelos seguranças na entrada, sendo agredida por um deles. No distrito fomos tratados com desdem, e a resposta que ouvimos foi "lá a gente não se mete, eles tem o direito de revistar!".
Assédio era sinônimo de violência, constrangimento funcional, e outros comportamentos machistas.
Hoje quando leio o noticiário fico ressabiado, já não temos mais o mesmo panorama, e o empoderamento feminino está gerando confusão na cabeça de muito homem.
Fiu fiu não vale, olhar de rabo de olho, também não. Não vale ser carioca engraçadinho com suas cantadas de cachorrinho, e músicas de carnaval consideradas 'machistas' são banidas.
Criminalizaram a galinhagem, o ambiente suruba do happy hour de fim de expediente, a indiferença pecaminosa do "quero ele para mim".
Daqui para a frente voltarão os colégios só para meninas, e só para meninos, e a Luluzinha vai fechar seu 'Clube do Bolinha'.
Fiquei perdido, e não assino embaixo do mea culpa do José Mayer, pois nossa formação masculina não foi construída em campinhos de futebol, nem em rodas de boteco, mas em casa, quando nossas mães e tias orgulhosas diziam, "prendam suas cabras que meus bodes estão soltos".
Um tempo em que no 'Laboratório B. Braun', onde trabalhei, nas festas de fim de ano os caras da diretoria constrangiam as meninas da fábrica com passadas de mão na bunda, e estas fingiam aceitar só para irem trabalhar no escritório.
Essas e outras grosserias eram gritantes.
Uma vez levei uma colega que trabalhava na obra da Usina Nuclear, em Angra dos Reis, a delegacia pois que tinha se negado a deixar ser apalpada pelos seguranças na entrada, sendo agredida por um deles. No distrito fomos tratados com desdem, e a resposta que ouvimos foi "lá a gente não se mete, eles tem o direito de revistar!".
Assédio era sinônimo de violência, constrangimento funcional, e outros comportamentos machistas.
Hoje quando leio o noticiário fico ressabiado, já não temos mais o mesmo panorama, e o empoderamento feminino está gerando confusão na cabeça de muito homem.
Fiu fiu não vale, olhar de rabo de olho, também não. Não vale ser carioca engraçadinho com suas cantadas de cachorrinho, e músicas de carnaval consideradas 'machistas' são banidas.
Criminalizaram a galinhagem, o ambiente suruba do happy hour de fim de expediente, a indiferença pecaminosa do "quero ele para mim".
Daqui para a frente voltarão os colégios só para meninas, e só para meninos, e a Luluzinha vai fechar seu 'Clube do Bolinha'.
Fiquei perdido, e não assino embaixo do mea culpa do José Mayer, pois nossa formação masculina não foi construída em campinhos de futebol, nem em rodas de boteco, mas em casa, quando nossas mães e tias orgulhosas diziam, "prendam suas cabras que meus bodes estão soltos".
Wednesday, April 5, 2017
Meu mundo digital
Minha amiga pergunta, "como está a solidão?".
Respondo ouvindo jazz, que é a minha ligação com Deus. Ouço jazz o dia inteiro quando estou em casa, sentado diante da tela do computador, trabalhando e escrevendo minhas tranqueiras, olhar ligado nos fatos.
Meu mundo é uma tela de cristal, e o facebook minha companhia para deixar a cabeça ocupada, diversão e realidade transformada em histórias.
Mais fácil assim o pensamento, que aquele monte de papel rabiscado de antigamente, quando não impresso, datilografado pelo teclado da minha velha Remington portátil.
De vez em quando levanto a bunda da cadeira e saio, faço as compras, posto as coisas que vendo para os meus clientes, e aproveito para conversar com quem quiser conversar, no ônibus, no mercado, na rua, etc. Levo uma vida sedentária regada a alimentação saudável e natural o mais que que possa.
Às vezes falo com minha outra amiga que se foi pelo whatsapp, as mesmas amenidades de quando estávamos juntos.
Enquanto essa crise não passa parei de cozinhar para fora, virei chef de mim mesmo. Não sei ficar disputando o pouco mercado que existe com gente que empreende por necessidade, prefiro a preguiça, o relaxamento, a falta de desejos que não me obriguem a avançar. Ficar na moita esperando é bem melhor!
Se isso é viver com sabedoria, é bom viver assim. A velhice tem disso, uma certa conformação com a realidade.
E enquanto vou vivendo essa vida, vou recordando. Vivi muitos amores, criei filhos, escrevi uma história cultural e profissional, que cada dia releio um pouco.
Se antes tudo virava letra de música, poesia, hoje transformo em conteúdo que abastece meu mundo digital.”
Respondo ouvindo jazz, que é a minha ligação com Deus. Ouço jazz o dia inteiro quando estou em casa, sentado diante da tela do computador, trabalhando e escrevendo minhas tranqueiras, olhar ligado nos fatos.
Meu mundo é uma tela de cristal, e o facebook minha companhia para deixar a cabeça ocupada, diversão e realidade transformada em histórias.
Mais fácil assim o pensamento, que aquele monte de papel rabiscado de antigamente, quando não impresso, datilografado pelo teclado da minha velha Remington portátil.
De vez em quando levanto a bunda da cadeira e saio, faço as compras, posto as coisas que vendo para os meus clientes, e aproveito para conversar com quem quiser conversar, no ônibus, no mercado, na rua, etc. Levo uma vida sedentária regada a alimentação saudável e natural o mais que que possa.
Às vezes falo com minha outra amiga que se foi pelo whatsapp, as mesmas amenidades de quando estávamos juntos.
Enquanto essa crise não passa parei de cozinhar para fora, virei chef de mim mesmo. Não sei ficar disputando o pouco mercado que existe com gente que empreende por necessidade, prefiro a preguiça, o relaxamento, a falta de desejos que não me obriguem a avançar. Ficar na moita esperando é bem melhor!
Se isso é viver com sabedoria, é bom viver assim. A velhice tem disso, uma certa conformação com a realidade.
E enquanto vou vivendo essa vida, vou recordando. Vivi muitos amores, criei filhos, escrevi uma história cultural e profissional, que cada dia releio um pouco.
Se antes tudo virava letra de música, poesia, hoje transformo em conteúdo que abastece meu mundo digital.”
Friday, March 10, 2017
Foi gritando que construí a masculidade
"Se precisar, grite!" este é o título do blog 'Mãe sem receita' de hoje, e justamente ontem, 'Dia da Mulher' esse era o mote da discussão no boteco que varou a madrugada, a construção do masculino e feminino da pessoa.
Lendo o post lembrei dos conselhos das mulheres da minha casa.
Garoto frágil, quase um palito, tinha estudado em colégio interno, chegando a ser molestado no meu bingulim.
Ainda lembro de minha tia me banhando com azul de metileno, e dando conselhos que mantivessem a minha masculinidade.
Até que ganhei a liberdade e pude brincar solto nas ruas, sempre mantendo ao ouvindo o que falavam as conselheiras da família.
Certo dia, numa dessas brincadeiras infantis, comecei a sentir algo estranho nas palavras e no comportamento dos garotos que me acompanhavam.
Foi quando vieram com aquele história de tirar a roupa. Pronto, senti que ia ser comido por três moleques mais velhos e mais fortes que eu.
"Dona Vera! Dona Vera!" berrei o mais alto que pude pela vizinha da casa ao lado, que acorreu ao portão desfazendo a intenção do estrupo.
Desfeita a cena saíram os garotos, cada um paro o seu lado com aquele papo de "não sabe nem brincar".
Fosse hoje, teria começado minha iniciação sexual pelo rabo, e estaria hasteando a bandeira do arco-íris como causa.
Penso que nesses casos cabe uma reflexão das mães que curtem fervorosamente o programa "Esquenta Gay". Será que o "se precisar grite!" não deveria ser ensinado também aos garotos, e não só as mulheres na sua luta contra a violência masculina?
A igualdade de gêneros padece dos ensinamentos de Dona Idea, Neia, Cema e Dulcilia, mãe e tia que me ajudaram a permanecer homem, sem nenhum outro desejo ou opção."
#BiradeOliveira
Lendo o post lembrei dos conselhos das mulheres da minha casa.
Garoto frágil, quase um palito, tinha estudado em colégio interno, chegando a ser molestado no meu bingulim.
Ainda lembro de minha tia me banhando com azul de metileno, e dando conselhos que mantivessem a minha masculinidade.
Até que ganhei a liberdade e pude brincar solto nas ruas, sempre mantendo ao ouvindo o que falavam as conselheiras da família.
Certo dia, numa dessas brincadeiras infantis, comecei a sentir algo estranho nas palavras e no comportamento dos garotos que me acompanhavam.
Foi quando vieram com aquele história de tirar a roupa. Pronto, senti que ia ser comido por três moleques mais velhos e mais fortes que eu.
"Dona Vera! Dona Vera!" berrei o mais alto que pude pela vizinha da casa ao lado, que acorreu ao portão desfazendo a intenção do estrupo.
Desfeita a cena saíram os garotos, cada um paro o seu lado com aquele papo de "não sabe nem brincar".
Fosse hoje, teria começado minha iniciação sexual pelo rabo, e estaria hasteando a bandeira do arco-íris como causa.
Penso que nesses casos cabe uma reflexão das mães que curtem fervorosamente o programa "Esquenta Gay". Será que o "se precisar grite!" não deveria ser ensinado também aos garotos, e não só as mulheres na sua luta contra a violência masculina?
A igualdade de gêneros padece dos ensinamentos de Dona Idea, Neia, Cema e Dulcilia, mãe e tia que me ajudaram a permanecer homem, sem nenhum outro desejo ou opção."
#BiradeOliveira
Wednesday, March 8, 2017
Por uma sociedade igualitária de homens e mulheres
Hoje, devido a insônia percorri o caminho até a porta do boteco, olhando a paisagem matinal, os homens de paletó e gravata sentados na direção dos automóveis que passavam, e as mulheres apressadas dirigindo os seus paradas em frente a escola ditando as últimas ordens aos filhos antes de entrar.
Com o boteco que frequento ainda fechado, entrei na padaria e pedi um pingado, enquanto passava os olhos no jornal comprado na banca em frente.
Entre as manchetes o viver das brasileiras pelo mundo. Foi quando me dei conta era o dia da mulher.
Lembrei da primeira vez que me pus ao lado das mulheres, com uma visão mais politizada, foi quando uma edição da revista "Realidade" foi censurada e recolhida das bancas. Penso que o ano era 1972.
A revista abordava o sexo, e tinha uma entrevista da Itala Nandi que aos olhos de hoje seria um verdadeiro manifesto feminista.
O noticiário me trouxe a constatação daquilo que vivia em casa, o valor da mulher e seu empoderamento, educado que fui por três tias e uma mãe libertárias e independentes.
Depois bandeei para a vida cultural, e cantei a mulher no meu livro de poesias, e no meu minivinil onde tentei transpor a realidade do lado feminino do homem.
Viria em seguida meu vinil, que dediquei as minhas filhas, "mulheres de um novo tempo" como dizia a dedicatória.
Mais recentemente, no mundo digital estive ao lado do feminino no apoio a "Marcha das Vadias", que clama pelo modo da mulher em determinar a exibição do corpo, e como consequência apoiei o movimento "Femen".
No entanto venho mantendo uma certa preocupação pela desconsideração do elemento "masculino" visto em algumas manifestações de certas lideranças "femininas", talvez por mágoas e rancores devido a anos de dominação que tem permeado manifestações e comportamentos.
Não vejo nenhum debate que considere o comportamento "masculino" como igualitário, pondo-se qualquer ideia de ser homem com ser machista, quase que subjugando o ser.
Tudo que sonhei sobre igualdade e fraternidade entre os sexos não viverei para ver, mas quero parabenizar o ser mulher pelo papel que exerce na humanidade, e na construção de uma sociedade melhor.
Embora mantendo a crítica me se deve ao ser mãe muitos dos pecados masculinos, por algum egoísmo ou excesso de zelo que esteja por trás dos erros de certos homens, quero dedicar a todas meus "PARABENS PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER.
Com o boteco que frequento ainda fechado, entrei na padaria e pedi um pingado, enquanto passava os olhos no jornal comprado na banca em frente.
Entre as manchetes o viver das brasileiras pelo mundo. Foi quando me dei conta era o dia da mulher.
Lembrei da primeira vez que me pus ao lado das mulheres, com uma visão mais politizada, foi quando uma edição da revista "Realidade" foi censurada e recolhida das bancas. Penso que o ano era 1972.
A revista abordava o sexo, e tinha uma entrevista da Itala Nandi que aos olhos de hoje seria um verdadeiro manifesto feminista.
O noticiário me trouxe a constatação daquilo que vivia em casa, o valor da mulher e seu empoderamento, educado que fui por três tias e uma mãe libertárias e independentes.
Depois bandeei para a vida cultural, e cantei a mulher no meu livro de poesias, e no meu minivinil onde tentei transpor a realidade do lado feminino do homem.
Viria em seguida meu vinil, que dediquei as minhas filhas, "mulheres de um novo tempo" como dizia a dedicatória.
Mais recentemente, no mundo digital estive ao lado do feminino no apoio a "Marcha das Vadias", que clama pelo modo da mulher em determinar a exibição do corpo, e como consequência apoiei o movimento "Femen".
No entanto venho mantendo uma certa preocupação pela desconsideração do elemento "masculino" visto em algumas manifestações de certas lideranças "femininas", talvez por mágoas e rancores devido a anos de dominação que tem permeado manifestações e comportamentos.
Não vejo nenhum debate que considere o comportamento "masculino" como igualitário, pondo-se qualquer ideia de ser homem com ser machista, quase que subjugando o ser.
Tudo que sonhei sobre igualdade e fraternidade entre os sexos não viverei para ver, mas quero parabenizar o ser mulher pelo papel que exerce na humanidade, e na construção de uma sociedade melhor.
Embora mantendo a crítica me se deve ao ser mãe muitos dos pecados masculinos, por algum egoísmo ou excesso de zelo que esteja por trás dos erros de certos homens, quero dedicar a todas meus "PARABENS PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER.
Monday, March 6, 2017
A morte sem morte da separação
Estava sentado a mesa do boteco 'Salve Simpatia' tomando minha 'Eisenbahn', quando Serginho Birinaite chegou e me fez a pergunta que eu, como um candidato a "analista de bagé" de quinta de pronto respondi.
"ESTOU ME SENTINDO COMO VIÚVO, MESMO SEM TER TIDO A MORTE EM MINHA VIDA. E A DOR DA PERDA É TÃO INTENSA COMO SE A MORTE TIVESSE HAVIDO. QUALQUER COISA, QUALQUER LEMBRANÇA DA PESSOA E DE UM PASSADO, ME TRÁS A TRISTEZA, O CHORO, A MELANCOLIA. POR QUE ISSO ACONTECE?"
- Quando você se separa de alguém por absoluta incompatibilidade, seja moral, seja existencial ligada ao espírito ou ao caráter, esse separação deve ter ocorrido dentro de um processo.
Mas quando você descobre que o outro se foi, sem lhe dar o motivo da partida, é a morte, principalmente quando esse alguém estava certo de ser a sua companhia até o fim dos seus dias.
Conheço histórias de desaparecimento de pessoas que foram ali na esquina comprar cigarro, e nunca mais voltaram, sem que tenha havido qualquer notícia de crime ou acidente que justificasse o sumiço.
Tenho pensado que os que agem assim são suicidas sociais, pessoas que se matam para um grupo ou para alguém num impulso pessoal.
E não adianta resistir a covardia do ato, suicidas são egoístas e só pensam no conforto da morte, pouco se importando com a dor de quem fica.
Um pouco de resistência a tentação de se entregar ao sofrimento lhe permitirá seguir em frente. Suas estruturas pessoais se forem sólidas - trabalho, amor pela vida, cidadania, cultura, visão de futuro, fé e Deus no coração -, construções do caráter que lhe permitam ser um justo e compartilhar seus conhecimentos e experiências com outrem.
"E OS QUE NÃO TEM ESSE COLCHÃO, TEMPOS DE ANÁLISE NAS COSTAS, NENHUMA CONVIVÊNCIA COM O FRACASSO E A SEPARAÇÃO?"
- Para estes é um pouco mais difícil a reconstrução. Mais saiba, que mesmo assim o tempo passará e daqui um tempo tudo se resumirá a uma lembrança, com um pouco de saudade, talvez.
Mas até lá tente ser forte, sentindo, mas seguindo em frente, conclui.
Claro que ele não ligou nem um pouco para a minha resposta.
Também pudera, tinha a serviço uma garrafa de 'Chivas Regal' reservada, que achou seria uma melhor conselheira.
Antes de sair lembrei do velho Flavio Gikovate quando dizia que "separação doía mais que a própria morte".
"ESTOU ME SENTINDO COMO VIÚVO, MESMO SEM TER TIDO A MORTE EM MINHA VIDA. E A DOR DA PERDA É TÃO INTENSA COMO SE A MORTE TIVESSE HAVIDO. QUALQUER COISA, QUALQUER LEMBRANÇA DA PESSOA E DE UM PASSADO, ME TRÁS A TRISTEZA, O CHORO, A MELANCOLIA. POR QUE ISSO ACONTECE?"
- Quando você se separa de alguém por absoluta incompatibilidade, seja moral, seja existencial ligada ao espírito ou ao caráter, esse separação deve ter ocorrido dentro de um processo.
Mas quando você descobre que o outro se foi, sem lhe dar o motivo da partida, é a morte, principalmente quando esse alguém estava certo de ser a sua companhia até o fim dos seus dias.
Conheço histórias de desaparecimento de pessoas que foram ali na esquina comprar cigarro, e nunca mais voltaram, sem que tenha havido qualquer notícia de crime ou acidente que justificasse o sumiço.
Tenho pensado que os que agem assim são suicidas sociais, pessoas que se matam para um grupo ou para alguém num impulso pessoal.
E não adianta resistir a covardia do ato, suicidas são egoístas e só pensam no conforto da morte, pouco se importando com a dor de quem fica.
Um pouco de resistência a tentação de se entregar ao sofrimento lhe permitirá seguir em frente. Suas estruturas pessoais se forem sólidas - trabalho, amor pela vida, cidadania, cultura, visão de futuro, fé e Deus no coração -, construções do caráter que lhe permitam ser um justo e compartilhar seus conhecimentos e experiências com outrem.
"E OS QUE NÃO TEM ESSE COLCHÃO, TEMPOS DE ANÁLISE NAS COSTAS, NENHUMA CONVIVÊNCIA COM O FRACASSO E A SEPARAÇÃO?"
- Para estes é um pouco mais difícil a reconstrução. Mais saiba, que mesmo assim o tempo passará e daqui um tempo tudo se resumirá a uma lembrança, com um pouco de saudade, talvez.
Mas até lá tente ser forte, sentindo, mas seguindo em frente, conclui.
Claro que ele não ligou nem um pouco para a minha resposta.
Também pudera, tinha a serviço uma garrafa de 'Chivas Regal' reservada, que achou seria uma melhor conselheira.
Antes de sair lembrei do velho Flavio Gikovate quando dizia que "separação doía mais que a própria morte".
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