Monday, March 6, 2017

A morte sem morte da separação

Estava sentado a mesa do boteco 'Salve Simpatia' tomando minha 'Eisenbahn', quando Serginho Birinaite chegou e me fez a pergunta que eu, como um candidato a "analista de bagé" de quinta de pronto respondi.

"ESTOU ME SENTINDO COMO VIÚVO, MESMO SEM TER TIDO A MORTE EM MINHA VIDA. E A DOR DA PERDA É TÃO INTENSA COMO SE A MORTE TIVESSE HAVIDO. QUALQUER COISA, QUALQUER LEMBRANÇA DA PESSOA E DE UM PASSADO, ME TRÁS A TRISTEZA, O CHORO, A MELANCOLIA. POR QUE ISSO ACONTECE?"
- Quando você se separa de alguém por absoluta incompatibilidade, seja moral, seja existencial ligada ao espírito ou ao caráter, esse separação deve ter ocorrido dentro de um processo.
Mas quando você descobre que o outro se foi, sem lhe dar o motivo da partida, é a morte, principalmente quando esse alguém estava certo de ser a sua companhia até o fim dos seus dias.
Conheço histórias de desaparecimento de pessoas que foram ali na esquina comprar cigarro, e nunca mais voltaram, sem que tenha havido qualquer notícia de crime ou acidente que justificasse o sumiço.
Tenho pensado que os que agem assim são suicidas sociais, pessoas que se matam para um grupo ou para alguém num impulso pessoal.
E não adianta resistir a covardia do ato, suicidas são egoístas e só pensam no conforto da morte, pouco se importando com a dor de quem fica.
Um pouco de resistência a tentação de se entregar ao sofrimento lhe permitirá seguir em frente. Suas estruturas pessoais se forem sólidas - trabalho, amor pela vida, cidadania, cultura, visão de futuro, fé e Deus no coração -, construções do caráter que lhe permitam ser um justo e compartilhar seus conhecimentos e experiências com outrem.
"E OS QUE NÃO TEM ESSE COLCHÃO, TEMPOS  DE ANÁLISE NAS COSTAS, NENHUMA CONVIVÊNCIA COM O FRACASSO E A SEPARAÇÃO?"
- Para estes é um pouco mais difícil a reconstrução. Mais saiba, que mesmo assim o tempo passará e daqui um tempo tudo se resumirá a uma lembrança, com um pouco de saudade, talvez.
Mas até lá tente ser forte, sentindo, mas seguindo em frente, conclui.
Claro que ele não ligou nem um pouco para a minha resposta.
Também pudera, tinha a serviço uma garrafa de 'Chivas Regal' reservada, que achou seria uma melhor conselheira.
Antes de sair lembrei do velho Flavio Gikovate quando dizia que "separação doía mais que a própria morte".

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