Monday, November 28, 2011

Botecos que fazem a nossa história - Casa Villarino


Certa vez minha amiga me ligou morta de saudades.
Tinha deixado o jugo de um ex-marido canalha e se mudado para São Paulo, transformando-se numa poderosa executiva da firma do pai.
Marcamos encontro na Estação das Barcas e saímos andando pela Antonio Carlos na direção do Villarino.
Como é divertido encontrar alguém que se ama de paixão, e que nos deu a grata direção da vida.
Tê-la ao lado sempre foi prazeroso, vizinha de um apartamento acanhado em Niterói.
Nunca achei que aquela mulher descolada, viajada, de dupla nacionalidade, professora de inglês num dos cursos mais badalados da cidade fosse se interessar por mim, ou melhor, que eu fosse me interessar por ela.
Tínhamos em comum a liberdade e os filhos, eu pai-mãe, ela pai-filha. 
A amizade, ou melhor, a relação corria bem até a chegada do ex-marido, um famoso ex-produtor de discos que transformou-se num gigolô de luxo regado a pó. 
Ela, que tinha largado o vício da cocaína e se apegado a cerveja e a cachaça, além de ter que manter o vício daquele puto, tinha que aguentar as grossuras do moço, ralé de lord inglês.
Para se libertar do jugo do destino pediu desculpas ao pai pela vida desregrada, e prometendo mudar mudou-se para São Paulo.
Ainda bem, se não ia acabar virando mulher de bandido, preso que foi o canalha com uma carga de coca no aeroporto de Orly.
Sentados ali no Villarino bebemos todas, jogando charme e contando estórias do passado, relembrando a relação.
Fomos os últimos a sair, caminhando cambaleantes na direção da Cinelândia.
Prestes a tomar a saideira no Amarelinho, ou quem sabe, tomar a direção da cama fizemos o caminho inverso.
Ela pegando um táxi da direção do hotel em que estava hospedada, eu pegando a primeira barca para Niterói.
Sábia decisão que me deixou saudade, e transformou a Casa Villarino num lugar da  minha história.

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