Lea e Márcia são duas cozinheiras da Posse, localidade onde fica o meu sítio em São Vicente de Paulo, distrito de Araruama.
Lea prepara os jantares das casas dos sitiantes abastados, e Márcia, com curso de aproveitamento de alimentos do Sesc trabalhou durante muito tempo como merendeira do grupo escolar.
Convidei-as para trocar experiências culinárias, e aprender com elas os segredos dos seus "Bolinho de Aipim", que elas vendem em dias de jogos no campo de várzea do lugar.
Primeiro fomos ao sítio do “seu” Izaias para pegar o aipim tirado do pé.
“Seu” Izaias é um camponês proseador que trabalha a terra desde de pequeno. Enquanto foi lá pegar o aipim ficamos conversando com a mulher dele, que nos vendeu “ovos caipira” a R$ 4,00 a dúzia. Perguntei sobre as galinhas e quase cai para trás com o preço: R$ 13,00 o kilo.
Aipim bonito aquele, fruto de uma terra preta, raiz das boas.
Das conversas fiquei sabendo que era do tipo “carioca”, de casca branca, o melhor para o preparo de bolos e salgados, enquanto que o de outro tipo, mais encontrado e vendido nas grandes cidades é o de “casca rosa”, mais amanteigado, gostoso para comer a mesa com manteiga no café.
Na cozinha deixei as duas à vontade, trocando ricas experiências culinárias, até que chegamos a uma definitiva receita.
A carne moída do recheio da Lea é show de bola. Refogada com cebola batidinha, salsinha, cominho e colorau feito em casa.
O aipim depois de descascado e cozido na panela de pressão, por uns 15 minutos após levantar pressão ficou cozido no ponto para passar pelo amassador.
Só que este tipo de aipim não pede farinha de trigo para pegar o ponto da massa.
Para não ficar pegando, e bom de moldar os bolinho acrescentamos 1 colher de sopa de óleo de milho por kilo de aipim cozido, que no meu caso foi passado antes pela máquina de moer carne no dente largo, ainda quente, depois de tirados os fiapos.
Ficou uma massa tão boa e uniforme que parecia um sorvete de creme.
Depois foi só moldar os bolinhos, que fizemos de carne moída e carne seca.
Durante o encontro repassei, além de noções de gastronomia técnicas de congelamento, colocando a sua disposição os nossos freezeres para alcançar os seus objetivos profissionais. Junto com isso também as instrui sobre o comércio dos seus produtos.
Daqui para a frente vai ser assim, já que a idéia da cozinha comunitária não vingou.
Reunião e bate-papo com outras mulheres do local para trocar experiências, e tentar conscientizá-las a gerar renda com suas habilidades quase que domésticas.
Sunday, April 12, 2009
Sunday, April 5, 2009
Seria o gambá um animal em extinção?
Eram três gambás. Um fugiu, os outros dois Mica matou.
Mica é o caseiro do sítio, homem dos sete instrumentos.
Quando soube que os gambás estavam escondidos no sótão da casa ficou eufórico.
Montou tocaia durante dois dias esperando os bichinhos aparecer.
Até que no terceiro eles resolveram dar as caras descendo pelo cajueiro.
Mica correu atrás, deu-lhes uma paulada que não pegou – os bichinhos correram céleres pra cima da árvore e de lá não resolveram mais sair -, e saiu todo prosa contando vantagem.
Mica foi em casa, pegou uma lanterna e voltou, subindo na árvore... E nada!
Até que, outro dia a tardinha, saindo do pasto depois de apartar os bezerros recebeu a notícia. Estavam fazendo barulho, em cima do forro da cozinha.
Rapidamente subiu no telhado com um cabo de vassoura e foi direto onde um dos bichinhos estava.
Deu dó! Agarrou o gambá pelo rabo e aplicou-lhe uma pancada na cabeça. O bichinho chorava, e ainda estava estrebuchando quando ele o jogou de cima do telhado.
Não agüentei a cena de vê-lo carregando o gambá pelo rabo, a caminho da sua casa de onde iria direto para a panela.
E eu que não sou amante de carne de caça fiquei curioso para saber o gosto que têm, como se prepara e faz.
Hoje numa prosa na varanda recebi uma aula desse animal, tido por alguns como peçonhento, amigo do meu pé de siriguela, inimigo dos ovos das galinhas do quintal.
O gambá é um animal estranho. Feio que nem dó exala um fedor, uma catinga sempre que está acuado.
E é essa catinga, esse fedor que tem que se cuidado em retirar ao preparar.
São duas glândulas debaixo do sovaco e duas na altura da virilha que tem que ser arrancadas fora antes do preparo. Tem também uma outra carne no pescoço que tem que ser tirada.
Depois é pegar o bicho e “salpicar” no fogo (salpicar é queimar o pêlo assim como se faz com o porco).
Salpica e raspa, tantas vezes quantas forem necessárias para limpar todo o couro.
Depois lava-se o bicho, corta-se ao meio da cabeça ao rabo, dividindo em dois.
Parte-se em pedaços e põe para marinar num tempero a base de alfavaca, alho, sal, vinho tinto, e para alguns cebola.
Curtida bem a carne leva-se ao fogo com água para cozinhar e amaciar em panela de pressão.
Ao final, vendo que os pedaços estão macios joga-se fora o molho e frita-se em gordura quente.
Não foi dessa vez experimentei. Mas da próxima, se o bichinho for mais carnudo, com menos gordura vou provar.
O papo estava rolando quando chegou “seu” Romário, pescador de Arraial do Cabo falando de passarinho.
Foi quando perguntei: “Já comeu gambá, “seu” Romário?”
“Já comi sim..” respondeu “...mas hoje não sei se teria coragem de comer mais não!”
“Antigamente a gente comia rolinha, pombo, passarinho, tudo matado com estilingue. Hoje, velho tenho pena desses bichinhos de Deus que vivem perdidos no meio do mato” arrematou em tom de pena.
Gente simples com suas estórias, perdidos que nem gambá, com suas preocupações ecológicas nesses tempos em que a preservação do meio ambiente esbarra, volta e meia com os prazeres da carne.
Mica é o caseiro do sítio, homem dos sete instrumentos.
Quando soube que os gambás estavam escondidos no sótão da casa ficou eufórico.
Montou tocaia durante dois dias esperando os bichinhos aparecer.
Até que no terceiro eles resolveram dar as caras descendo pelo cajueiro.
Mica correu atrás, deu-lhes uma paulada que não pegou – os bichinhos correram céleres pra cima da árvore e de lá não resolveram mais sair -, e saiu todo prosa contando vantagem.
Mica foi em casa, pegou uma lanterna e voltou, subindo na árvore... E nada!
Até que, outro dia a tardinha, saindo do pasto depois de apartar os bezerros recebeu a notícia. Estavam fazendo barulho, em cima do forro da cozinha.
Rapidamente subiu no telhado com um cabo de vassoura e foi direto onde um dos bichinhos estava.
Deu dó! Agarrou o gambá pelo rabo e aplicou-lhe uma pancada na cabeça. O bichinho chorava, e ainda estava estrebuchando quando ele o jogou de cima do telhado.
Não agüentei a cena de vê-lo carregando o gambá pelo rabo, a caminho da sua casa de onde iria direto para a panela.
E eu que não sou amante de carne de caça fiquei curioso para saber o gosto que têm, como se prepara e faz.
Hoje numa prosa na varanda recebi uma aula desse animal, tido por alguns como peçonhento, amigo do meu pé de siriguela, inimigo dos ovos das galinhas do quintal.
O gambá é um animal estranho. Feio que nem dó exala um fedor, uma catinga sempre que está acuado.
E é essa catinga, esse fedor que tem que se cuidado em retirar ao preparar.
São duas glândulas debaixo do sovaco e duas na altura da virilha que tem que ser arrancadas fora antes do preparo. Tem também uma outra carne no pescoço que tem que ser tirada.
Depois é pegar o bicho e “salpicar” no fogo (salpicar é queimar o pêlo assim como se faz com o porco).
Salpica e raspa, tantas vezes quantas forem necessárias para limpar todo o couro.
Depois lava-se o bicho, corta-se ao meio da cabeça ao rabo, dividindo em dois.
Parte-se em pedaços e põe para marinar num tempero a base de alfavaca, alho, sal, vinho tinto, e para alguns cebola.
Curtida bem a carne leva-se ao fogo com água para cozinhar e amaciar em panela de pressão.
Ao final, vendo que os pedaços estão macios joga-se fora o molho e frita-se em gordura quente.
Não foi dessa vez experimentei. Mas da próxima, se o bichinho for mais carnudo, com menos gordura vou provar.
O papo estava rolando quando chegou “seu” Romário, pescador de Arraial do Cabo falando de passarinho.
Foi quando perguntei: “Já comeu gambá, “seu” Romário?”
“Já comi sim..” respondeu “...mas hoje não sei se teria coragem de comer mais não!”
“Antigamente a gente comia rolinha, pombo, passarinho, tudo matado com estilingue. Hoje, velho tenho pena desses bichinhos de Deus que vivem perdidos no meio do mato” arrematou em tom de pena.
Gente simples com suas estórias, perdidos que nem gambá, com suas preocupações ecológicas nesses tempos em que a preservação do meio ambiente esbarra, volta e meia com os prazeres da carne.
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