Sunday, June 27, 2010

A amiguinha lésbica de Bob Devasso

"Conheci minha amiguinha lésbica quando fazia uma besteirinha de trabalho para a firma em que ela era secretária. Chegou a mim por um classificado de jornal, e logo que dei de cara com a figura percebi sua opção sexual.
Fumando muito, com aquele jeitão de lutadora de boxe fugindo de um "jab" trazia no olhar a doçura de uma menina desengonçada, cheia de respeito diante do profissional.
Em meio a balburdia do show-room da imobiliária comecei falando de alguns projetos que havia desenvolvido, e das opções que a firma tinha para me contratar. Mesmo sacando que ela não gostava de homem queria deixar uma boa impressão, seduzir para conquistar o contrato.
Convidei seu chefe para participar da reunião e este, meio sovina quis saber do custo da minha visita, por considerar que ali o trabalho não iria render. Realmente no meio daquele entra e sai de gente procurando apartamentos para alugar por temporada não era o melhor lugar para se trabalhar num projeto daqueles.
Entusiasmada e com a carta-branca do chefe marcou comigo no Bip Bip, o simpático boteco da Almirante Gonçalves próximo a firma. Depois de duas cervejinhas fomos andando a pé até o seu apartamento. Ambos os lugares, trabalho e residência ficavam em Copacabana, bairro cheio de mistérios e encantamentos.
Ela morava num daqueles prédios lotados de quitinetes, com um porteiro com cara de novela das oito, tremendo "Copamar" antes da síndica durona que, como toda quitinete de Copa era apertada, transformada num loft meio improvisado.
O clima dentro da casa era animado. Sua namorada, uma pretinha gostosa, cismava em querer atrapalhar a reunião da gente, morta de ciúmes. Nem precisava, estava ali a trabalho, e na ativa quero o meu na mão.
Já mesmo antes, quando estivemos juntos na firma, senti que as duas tinham uma relação conturbada. O telefone tocando a toda a hora, e as intervenções, que beiravam o baixo astral não indicavam qual das duas tinha a pomba-gira mais agressiva.
No apartamento, um laptop cheio de defeitos, com fotos de sacanagem na tela, e endereços de sites pornográficos misturados aos arquivos de trabalho foi colocado a minha disposição numa posição tão desconfortável que fazia que eu, todo torto na cadeira ficasse bem de frente para tudo que acontecia na sua vida privada.
Com as duas morava uma outra garota, esta de programa, não sei se lésbica também.
Quando cheguei estava com os peitinhos a mostra, durinhos, por trás de uma blusa de seda, e os cabelos tintos de louro com aquela cor de água oxigenada. Depois saiu para tomar banho.
Meu rabo de olho não permitiu ver se tinha uma bunda gostosa, mas era saliente a garota, com aquele ar de "quem quer pagar" toda espevitada.
Envolta numa toalha voltou ao loft faminta, buscando restos de comida para alimentar seu corpo glamoroso. Acompanhei toda a sua preparação para o novo programa, suas entradas e saídas penteando o cabelo, se maquiando, arrumando a roupa bem em frente de onde eu estava sentado, sempre por trás do balcão em que faziam as refeições, e eu só conseguindo lhe ver da cintura para cima.
Um detalhe: toda a vez que a geladeira abria saia um odor de azedo, aquele cheiro de comida estragada própria de gente sem tempo. Uma pena que o doce perfume de banho ficasse misturado ao ar daquele lugar meio podre.
Minha amiguinha lésbica, preocupada em administrar o apartamento não conseguia sossegar o rabo para prestar atenção naquilo que eu estava propondo, reclamando com as duas a todo instante de cada detalhe que visse de errado. Dizia para mim que estava entendendo, que queria assim ou assado, e que isso ou aquilo me passaria por email.  Seu olhar e atenção estavam voltados o tempo todo para a zona que era aquele lugar. Mais puta ficou quando soube que não tinha comida para comer.
E assim foi indo o trabalho. Daquele encontro em diante voltei só mais uma vez ali.
Com a cabeça fantasiando orgias ficava esperando por um novo convite. Mas nada, só madrugadas ao telefone, e emails sem fim até aprontar o trabalho, que por sinal ficou uma merda - para ficar mais barato ela optou que eu lhe ensinasse a fazer, e para aquilo não tinha a menor criatividade. Mas me senti confortável por ter conseguido terminar o trabalho.
Voltemos a nossa amizade. Nos afastamos um tempo, ela foi demitida da firma, e eu fiquei sem saber como andava sua vida.
Até que um dia ligou, me fazendo um convite para montarmos juntos uma agência de garotas de programa. Minha delicada recusa criou o vínculo que temos até hoje.
Está de namorada nova, ciumenta como sempre, morando no mesmo sórdido apartamento que a encontrei pela primeira vez."

Tuesday, June 15, 2010

Canalhice não é cafajestagem

Bob Devasso é um personagem recorrente em minha vida.
Conheci-o nos tempos da faculdade freqüentando os mesmos botecos que eu.
Naquele tempo tentava afogar a covardia de não ser um engajado na luta armada contra a ditadura nas doses de Riopedrense que era moda beber.
De política o Bob fugia como fugia também da mocreia que vivia enchendo seu saco, e com a qual era casado.
Tinha dois filhos lindos o puto, os quais gostava de exibir aos amigos que não saiam da sua casa, onde rolava sempre muita música e cerveja.
Nossa amizade começou a crescer a partir do dia em que eu o levei a um show do Milton, onde o protesto não ficava só nas canções mais também no comportamento.
Acho que foi dai que lhe acrescentei ao apelido a alcunha de 'devasso'. Sentado no chão atrás de uma tremenda gata empatolou-lhe as mãos nos peitos enquanto soltava o vozeirão ao ritmo de "Travessia".
Dormiu no sofá naquele dia e pegou gosto pela devassidão.
Passava madrugadas ao violão cercado sempre de muito papo e sacanagem distribuída nas matinas por drogadas menininhas, para as quais o Bob era um careta pois só gostava de tomar cachaça, conhaque ou cerveja.
Gostassem ou não Bob era um filósofo. Suas sacadas existenciais eram únicas e lhe valiam os aplausos que gostava de receber.
Sujeito de inúmeras virtudes, entre as quais a de implicar comigo me chamando de canalha, se fazia respeitar aos berros com sua voz de tenor. Bastava uma mulherzinha se achegar da mesa de qualquer botequim que a gente sentasse, e ele lançava no ar a maldição “Birão é um canalha!”.
Foi assim, sem explicar por que por muito tempo. Até que apareceu uma zinha por quem me apaixonei e ele derramou mais uma vez os seus minutos de glória.
“Canalha é canalha, não tem moral” disse.
“São capazes de comer a filha, e sem nenhum pudor, comer a mãe. Meu amigo Birão não chega a esse ponto mas é capaz de dispensar a namorada na porta com a outra deitada na cama.” Rubro de vergonha não interrompi.
“E como todo bom canalha Birão não consegue ver na sua frente os costumes, os mais enraizados em nossa sociedade quando se trata de mulher. Não liga para compromisso, relação, aliança, e é capaz de dividir a mesma cama com mais de três.” 
Preste a perder a namorada cochichei no ouvido da moça que a definição cabia mais a ele do que a mim. Mas Bob não estava nem ai para a minha infelicidade. Queria dar seu show, filosofar mesmo que isso lhe custasse a minha amizade. Mas toda grande estrela tem sempre um bom final para sua apresentação, e nessa ele quis demonstrar sua amizade por mim.
“Mas existem os canalhas que ultrapassam essa barreira e se tornam uns cafajestes, e meu amigo Birão, um bom sujeito é apenas mais um canalha”.
A mesa cheia de vagabundos, bêbados e drogados clamava por uma definição. Embora palavras sinônimas qual seria a diferença entre o canalha e o cafajeste na concepção do Bob Devasso?
“O canalha não esconde com quem transou; o cafajeste sai contando para todo mundo. O canalha respeita a lágrima; o cafajeste dá porrada. O canalha adota a tática do cavalheirismo para chegar no alvo; o cafajeste é mal educado, só pensa em si, e é capaz até de cuspir no chão. E por ai vão as diferenças.”
A namorada lascou-me um beijo na boca, toda orgulhosa do canalha que tinha ao lado. E o Bob continuou.
“E o pior cafajeste é aquele que tem dinheiro no bolso. Aquele que agride uma empregada doméstica pensando ser prostituta. Aquele que leva viado para motel, e depois arma um barraco para não pagar, dizendo que nem desconfiava que era. E mais... Que é capaz de enrolar uma pobre donzela suburbana, prometendo casamento só para levá-la para a cama, e depois largar a coitada, apaixonada, na rua da amargura. O canalha lida com o igual; o cafajeste com a diferença. Nenhum dos dois tem alma, mas o cafajeste não tem mãe. E se a tem é dona de um bordel.”
Orgulhoso por não me enquadrar na definição de cafajeste que o Bob encontrara fui para a cama com a burguezinha que viria a ser minha futura mulher.

Monday, June 7, 2010

A Ninfeta do boteco

Tinha só quatorze aninhos quando ele a conheceu passando em frente ao botequim onde tomava umas cachaças.
Era uma dessas morenas gostosas que desde de criança já parece uma mulherzinha.
Uns peitões de mamão, uma boca carnuda, uns cabelos negros, soltos, caídos sobre o ombro, e aquele sorriso ingênuo cheio de felicidade.
Mas tarde descobriu que era afilhada de uma grande amiga sua, a quem pediu permissão para que viessem a trabalhar juntos. Cheio de boas intenções não lhe passava pela cabeça qualquer transgressão a lei.
Não foram poucas as ocasiões que desfrutou do prazer da sua companhia, prazer de brincar, correr e pular atrás da garotada. Era a juventude perdida dos seus tempos de criança. Levantava o seu astral em qualquer ocasião que beirasse a tragédia.
Certa vez seu carro, uma perereca velha, modelo Parati-83 a qual todos nós chamavamos de "margarida" enguiçou, bem ali, em cima do Rebouças, bocada do Morro dos Prazeres em Santa Tereza.
Chovia canivete e a perereca velha de guerra nada de pegar. Saíram os dois na chuva a empurrar o carro, ela a sorrir da situação, cabelos molhados sem medo do perigo, se divertindo do inusitado da situação.
Não foram poucas às vezes que quase tentou...
Numa outra, os dois sozinhos, de galinhagem, brincando que nem criança, dançando ao som da música que rolava na festa. A vida deles era assim, só diversão. Também, pudera eram atores, animadores de festa de criança e as suas vidas era só zoação. O jogo deles era esse: só sedução.
E ela crescendo, e ele vendo a mulheraça que surgia. Suas cantadas levavam em conta sempre a grande diferença de idade que existia entre eles. Tinha que ser sutil, conseguir primeiro pelo menos um olhar, sua atenção.
Um dia a convidou para almoçar, numa boa... Cheio de fome queria entrar no primeiro botequim que aparecessese pela frente para matar um PF, e ela na sua santa ingenuidade emburrou uma cara, e recusou: "está pensando que sou dessas" exclamou. Tinha só dezesseis anos.
Estava crescendo depressa e o seu tempo vital se escasseando virando amigos.
Depois, cada vez mais afastados e unidos apenas por um número se pendurou no telefone para ver se a convencia que não podiam se separar. Ela rindo e fingindo que não entendia nada.
Até que um dia cresceu de vez, virou mulher nos braços de outro, se apaixonou e se foi.
Sentiu sua falta... Era seu sonho de uma paixão terminal indo embora.
Até que hoje, desligado do mundo, apaixonado pelo seu trabalho de mergulhador o telefone tocou e ouviu de novo a sua voz.
Sete anos tinham se passado, ela foi atrás e o achou. Cheia de charme, toda mistério, mulher adulta, sedutora, deixando fluir aquele gosto de pecado através da voz.
Casada, mãe de um filho, lhe fez uma confissão: "Sempre nos demos bem... Gosto do que aprendo com homens mais velhos!".
Diante da sutileza da insinuação teve que se manter equilibrado, sem perder a linha, aquele dom de paizão que sempre teve com ela.
Do papo lhe restou apenas a saudade do tempo em que ela ainda era uma criança, e com essa vontade, esse tesão enorme que não o faz perder a esperança de que um dia ela seja sua mulher.

Sunday, June 6, 2010

Na sordidez de um boteco

Boteco chinfrim aquele.
Mesas e cadeiras enferrujadas misturadas a um monte de engradados de cerveja encostados num canto.
No balcão, uma pequena vitrine com três coxinhas de galinha de anteontem. Dava para sentir quão frias e geladas estavam, já que o ambiente de quente só tinha a cachaça.
Nada ali lembrava a elegância e o charme do botequim da praia de onde ele tinha saído, e enchido a cara cheia dos números da reunião de negócio.
O pneu do carro havia estourado, e a barriga arrebentando da farta comida do almoço. Tinha que botar para fora.
Antes de entrar já tinha chamado o hugo junto ao pé da árvore na calçada.
Mas por um acidente do destino estava ali.
A cabeça confusa não conseguia distinguir a diferença entre aquele lugar e qualquer outro boteco da moda de Ipanema.
Estava à procura de um sonrisal que fosse, e um copo d’água que fizesse o pozinho borbulhar.
Logo que entrou viu na prateleira aquilo que buscava. A estante mais parecia um balcão de farmácia: engov, eno, leite de magnésia, aspirina. Até uma réstia de camisinhas desbotadas tinha.
O olhar delirante passou batido em direção ao banheiro. Tinha que dar uma cagada e colocar para fora aquilo que me confundia o seu estômago.
A porta sem tranca mostrava o vaso sanitário todo respingado de merda, e as paredes repletas de inscrições, todas banais, de baixo calão.
Nessas horas o sujeito não consegue perceber a higiene. É a necessidade, o sufoco, o aperto da barriga, ou da bexiga querendo urinar.
O primeiro movimento saiu pela boca. Um vômito meio esverdeado de um fígado cambaleante. Depois veio o bolo de mignon digerido com vinho, uma merda fedida, mole e nojenta.
A entrada, no que passou pelo balcão até chegar ao quartinho pediu ao dono do estabelecimento alguma coisa que parecesse papel.
Nem precisava ser macio como a neve, bastava apenas que cumprisse a função. Quando moleque pobre de subúrbio cansou de usar a folha do caderno da escola, aplicando a técnica de amassar antes. Passou no cú a tinta do jornal com a notícia da sacanagem dos caras com a flotilha da liberdade. Não sabia por que, mas o nojo que sentiu pelo noticiário era maior do que o que sentia pelo vaso sanitário
Com o rabo velho limpo foi logo procurando pela descarga. Não queria deixar nenhum vestígio da sua passagem por ali. Gritou ao dono do boteco perguntando "onde ficava a descarga" e este lhe respondeu dizendo que mais tarde jogaria uma lata d’água para limpar a fedentina.
Estava se sentindo um sórdido bebum, caído na sarjeta, envolto em cheiros e perfumes os mais desagradáveis, percebendo naquele momento a miséria de qualquer cachaceiro de rua.
Mas se sentiu satisfeito ao completar aquilo que fora fazer ali.
Depois do copo de água borbulhante com aquele santo remédio foi aos poucos voltando a normalidade, louco de vontade de beber uma gelada. Pediu uma que, sem lhe negar, desceu redonda como o slogan que a propaganda lhe deu.
Com a cabeça no lugar teve a idéia de retribuir o favor, como se não fosse uma obrigação da lei manter um bar com um banheiro decente.
Do sujeito atrás do balcão ouviu a resposta que lhe pagasse apenas o que devia. Na certa ele não era o primeiro a derramar o porre pelo seu chão, ressaqueado.
Mas como não era daqueles que se submete a trama insistiu, perguntando o que havia para comer, além das defuntas coxinhas.
Veio a surpresa. O cara lhe trouxe um prato de um suculento mocotó, repleto do que sobrara do almoço, acompanhado por uma garrafa de farinha, o qual derrubou na hora.
"Divina comida!" exclamou As colheradas quentes aquecidas pelas gotas do molho ardido de pimenta foram descendo, e se acomodando como uma luva em cada tripa da sua barriga.
Bem, para não ficar encompridando a história digo que ele pagou a conta antes de repetir, bebendo o último copo de cerveja, a terceira garrafa que matava, já intimo do lugar.
Ainda no táxi sentiu de novo a sensação, a revolução, desta vez causada pelo mocotó barato de um boteco vulgar.
Mas ai, Inês já estava morta, e envolvido no conforto do seu apartamento, pijama trocado adormeceu tranqüilamente tendo a certeza de que o guincho da seguradora rebocaria o carro, e o deixaria cara limpa na garagem a espera da sua próxima bebedeira.